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A Dinastia

“O Princípio de Ritmo: Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo é a compensação."

Harbin - China

2025 D.C

 

         A antiga e abastada família Qigong vivia num imenso casarão, numa colina com vista para o mar de Harbin. Quando ninguém estava viajando, estudando ou trabalhando fora, a casa reunia os cento e vinte parentes de primeiro grau, e mais algumas dezenas parentes de segundo e terceiro grau. Seu patriarca era o velho mestre de artes marciais Li Qigong.

 

         A família Qigong era temida e respeitada pelo povo de Harbin tanto por administrar praticamente todos os mercados de peixe da cidade, quanto por possuir os lutadores de Kung Fu mais vorazes de toda a região.  Porém, todos na cidade conheciam o ponto fraco dos membros da família, tanto nas lutas como no comércio. Todos os Qigong seguiam um severo código. A Lei da Neutralização. Mas como toda regra tem sua exceção, nem todos permaneciam na mesma linha.

 

-         Eu recebi a carta, irmão! Estou ferrado! - Disse Ram, que acabara de acordar Kiro, um de seus irmãos mais velhos.  - Eu quero fugir para a capital!

-         Ram! Já viu que horas são? São quatro da manhã! - Kiro leva o rosto numa bacia de bronze ao lado de sua cama, e pega seus óculos na gaveta de sua escrivaninha. - Vamos conversar na cozinha! Assim não vamos acordar os outros! - Kiro veste um roupão e caminha silenciosamente até a porta. - Eles não seriam tão complacentes como eu estou sendo.

 

         O casarão tinha ao todo quarenta e cinco quartos, e os seus longos corredores eram decorados com diversas pinturas e esculturas que representavam o poder da China Antiga. A cozinha principal ficava no primeiro andar do prédio de oito andares. Kiro entrou no elevador e fez um sinal de silêncio para Ram. Quando eles chegaram a cozinha, Ram começou a chorar e entregou uma carta grande e branca a Kiro. Kiro apenas a colocou sobre a mesa e foi em silêncio preparar um chá para eles. 

 

-         Eu tentei a faculdade também, Ram. - Disse Kiro, enquanto servia o chá. - Quando eu fui recusado, senti uma certa felicidade por não ter que usar a Lei para equilibrar a maré do destino. Ao me ver satisfeito, nosso pai disse: “Filho, o ritmo da vida é constante! Se a maré baixa foi representada pela recusa de sua faculdade, se prepare para o que a maré alta lhe trará a partir do dia de hoje!” Depois meu pai chegou mais perto e falou pausadamente em meus ouvidos: “E quando a bonança da maré alta o contemplar, você então deverá equilibrar o ritmo, sacrificando algo que é seu! Nunca fuja da Lei!”

-         E foi ai que o tio Zang te deu o shopping center? - Pergunta Ram.

-         Sim! Algum tempo depois... - Ele responde sorrindo. - Nem nosso pai esperava aquilo!

-         E como você aplicou a Lei, meu irmão? - Ram começa a chorar novamente.

-          Estou morrendo de medo de meu pai quebrar a minha perna ou algo do tipo!

-         Haha! - Kiro sem querer solta uma gargalhada. - A Lei não é mais aplicada dessa forma, seu medroso! Se isso aconteceu foi em nosso passado! Nosso pai e nossos tios provavelmente tiveram que equilibrar o ritmo da maré dessa maneira, mas hoje não é bem assim! Isso deve ter sido o Huan que botou na sua cabeça! Ele vai se ver comigo…

-         Não foi o Huan! - Ram secou seu rosto com a toalha na mesa e depois cruzou os braços. - E o que nosso pai fez você sacrificar, afinal?

-         Bom, na verdade ele me deu duas escolhas. - Ele ria, enquanto lavava as chicaras de chá. - A primeira era fazer caridade na cidade com os meus próprios recursos, e a segunda era enfrentar sozinho todos os nossos primos do sul! - Kiro levanta Ram, e devolve sua carta. - Na mesma semana eu vendi meu carro e usei todo o dinheiro comprando agasalhos e alimentos para os mendigos do gelado bairro de Hining. - Mas afinal, você foi aceito ou não na faculdade? - Kiro pergunta.

-         Na verdade eu ainda nem abri a carta! O mais importante mesmo era estar preparado para enfrentar a Lei… Muito obrigado, meu irmão!

 

 

- FIM -

 Contos Universais é uma coleção de sete histórias

distintas que dividem um mesmo plano de fundo: As Sete Leis do Hermetismo. Cada conto apresenta uma das Leis, que vão guiando o leitor por eventos e situações que são aparentemente impossíveis, mas

que em seu desenrolar se mostram absolutamente reais e hermeticamente reveladoras.

 

                                         

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